segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Feira de São Joaquim. Patrimônio de Salvador. Vamos à feira!

Danilo Souza


Ao entrar por suas ruas apertadas, que popularmente são chamadas de becos e que nem de longe se compara com as famosas alamedas dos grandes shoppings Centers da cidade, conhecemos a Feira de São Joaquim. Lá, nos deparamos com todo tipo de gente, o que faz o local ser diferenciado por suas particulares, no que se diz respeito ao patrimônio cultural e imaterial do lugar.
Na feira se acha de tudo no que refere ao conhecimento popular, das ervas mais variadas aos temperos mais exóticos da culinária baiana. Uma marca muito presente no local é a religiosidade, no decorrer da caminhada o visitante se depara com barracas que tem como mercadoria elementos para rituais das religiões afro-brasileiras. São todos os tipos de instrumentos e acessórios utilizados nessas cerimônias religiosas. É normal ao longo da caminhada ouvir algum comerciante gritando: “Olha galinha para macumba... Olha o prato para o despacho!”.
Semiótica. A verdade é que a Feira de São Joaquim, em Salvador, traz consigo elementos semióticos muito contundentes no seu cotidiano. A forma de se comunicar de um feirante, as placas sinalizadoras na entrada de cada rua tudo é simbólico, tem intrínseco seu significado, o que para alguns visitantes dos finais de semana não representa muita coisa, para o vendedor tem valor inestimável, pois ele depende exclusivamente da feira. Esta é a realidade de Romilson Gomes, 19, que trabalha no local há três anos, jovem tímido de poucas palavras, ele se limita a dizer que a feira é importante para ele e que o movimento é bastante intenso todos os dias da semana.

Histórico

Fundada no final da década de 1960, depois da destruição da feira de águas de meninos pelo fogo em 1964, a Feira de São Joaquim têm um grande valor na vida dos moradores de baixa renda, em especial aqueles que residem na cidade baixa. Atualmente, localiza-se na cidade baixa, entre a Baia de Todos os Santos e a Avenida Oscar Pontes, no Comércio, com sua área de aproximadamente 34 mil metros quadrados, é de fundamental importância na vida das sete mil pessoas que tiram sustento de seus familiares. Vale ressaltar que, a maior parte dos trabalhadores da feira, são descendentes de escravos africanos, dessa forma produzem cerâmicas, potes, cuscuzeiros, gervão, etc. Por isso, e por muito mais a feira é considerada um patrimônio da cidade do Salvador, devendo ser preservado o aspecto histórico para que o semiótico perdure por muitos anos.

Abandono

No que se refere à organização de espaço físico e segurança a feira deixa a desejar, esse é um ponto que merece uma atenção especial por parte dos órgãos competentes. O local tem 41 anos, porém não existe nenhum projeto efetivo para a sua revitalização, quem chega tem a impressão que é lugar é abanado devido às condições precárias de higiene, segurança etc.
O presidente do Sindicato dos Feirantes (SINDFE) Ruiberg de Lima, 69 anos, 25 de feira, diz que desde algum tempo a Feira foi totalmente abandonada e realmente ficou ruim para se trabalhar, comentar: “Isso aqui já foi bom, hoje não presta mais, falta organização e principalmente segurança, a prefeitura nos esqueceu totalmente.”

Eventos na feira

Não obstante as dificuldades, os trabalhadores do lugar têm unido esforços para que a Feira não fique só na memória. Prova disso, foi à exposição que ocorreu em 2007 do publicitário e fotógrafo baiano Sergio Guerra, intitulada de Negroamor. Nessa exposição que tinha como objetivo revelar as semelhanças do povo baiano com o angolano, por isso a Feira foi utilizada para o evento, tendo em vista seus freqüentadores na sua maioria serem afros descendentes e, se verem representados por essa exposição. Outro evento aconteceu em 2009, dessa vez, foi com um desfile de moda do estilista Leonel Mattos, ele resolveu fazer algo não convencional, e conseguiu. No dia 14 de Maio, de 2009, aconteceu a sua exposição intitulada de Ocupação Artística na Feira de São Joaquim, para isso se usaram tapetes vermelhos e tudo mais, ou seja, as ruas barrentas da feira se transformaram em uma verdadeira passarela de moda.
Eventos como esses buscam valorizar a Feira de São Joaquim, para que os soteropolitanos não venham esquecer-se de um dos seus maiores patrimônios tanto cultural e imaterial da cidade.
Enfim, deve haver um esforço conjunto entre a sociedade civil Prefeitura e o Governo do Estado, para que Salvador não perca a Feira de São Joaquim. Até porque, isso ocorrendo a cidade vai está perdendo um patrimônio cultural e imaterial de inestimátivel valor para seu povo, e o lugar tão admirado ficará só na memória de quem trabalhava e comprava na Feira.

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